quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O mocho e a águia





Ele sempre observara tudo. Atento a tudo. Nada passara despercebido daqueles olhos de cor duvidosa. Sua vigia não permitia sequer que piscasse. Era sério.


Por vezes o peguei fitando-a, como se não mais suportasse viver sem a sua companhia, agora era ela a sua preterida.


Talvez fosse o calor em excesso ou mesmo sua intensidade, não sei, mas o que percebia era o seu desconforto com aquela presença, sempre irriquieta, expansiva.


Estava apaixonado, tinha certeza. Seus olhos, aquele relógio hipnótico, era capaz de correr todas as horas, as mais preciosas, as que restavam, e que, no entanto, em sua companhia, se perdiam.


Não aguentara mais. Precisava fugir, se esconder, não queria mais isso para si. Odiava-a.


Queria sua presença sempre por perto, como aquilo o preenchia! Como o fazia feliz, como era bom viver!


Sua indiferença já era a única forma que encontrara para se proteger. A apatia o consumia. Como diversas vezes desejou que nunca tivesse a encontrado. Queria morrer.


Desejava-a cada dia mais, seu corpo, suas vontades, seus defeitos, seus sonhos....Agora tinha sonhos. Podia dormir.


Era silencioso. Seu interior era pura pedra. Amorfo, frio, morto.





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