quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Agridoce




- Eu aceito uma coca-cola sim, por favor!
Quando pequena, o que talvez mais me encantasse fossem as festinhas de aniversários dos meus colegas de classe. Nunca entendi porque os adultos nunca participavam das animações, das brincadeiras e do momento mais esperado para mim, talvez, quando com uma simples guimba de cigarro,a chuva colorida de balas e brinquedinhos coloridos surgia no ar. Mas dessa vez, um objeto estranho participava daquele mundo infantil, marcado por uma ingenuidade e leveza completamente destoante daquela figura, sempre revoltada e polêmica.
Parecia-me tímida, numa mesa no fundo do grande play, e um pouco incomodada naquele ambiente confusamente animador, de bolas coloridas penduradas, pipoca doce e cachorro quente, misturado com sons oras de choros manhosos, ora por risadas infantis. Cássia Eller. Aquele monstro musical, de voz rouca e all star azul, ria timidamente para o garçom ao agradecer pela coca-cola oferecida.
A tal personalidade forte, quase que assustadoramente agressiva e marcante em suas inúmeras interpretações musicais, sempre envolvida em polêmicas e aparições marcadas por rebeldia e deboche, naquele momento, parecia-me uma menininha acanhada. Tive que beber quase que uma bandeja inteira de coca-cola só para permanecer perto de sua mesa e entender o que Cássia guardava ainda, por mais imperceptível que fosse, daquela menina reservada dos tempos de suas festas infantis.
A primeira imagem que me veio ao vê-la foi seu pequeno espetáculo ao levantar a blusa exibindo debochadamente os seios no Rock N’ Rio. Sempre tive admiração, mas também certo medo de sua imagem chocante que cuspia como homem e dizia palavrões. Frágil. Era justamente isso que percebi ao chegar mais perto de sua mesa. Aquela tensão sempre marcada pela sua presença havia-se dissolvido numa simples festinha infantil. A timidez dos seus gestos, o sorriso sempre muito expressivo, mas claramente contido, mostrava uma Cássia Eller menina. Era como se naquele momento, toda sua aparência masculinizada e largadona de bad-boy fosse desconstruída por uma doçura e meiguice de uma menininha de 6 anos que se entupia de coca-cola e não cansava de contar aos pais dos coleguinhas do seu filho, agora com uma voz descontraída, que o melhor desenho animado ainda era Tom e Jerry.
Talvez a armadura dos soldadinhos de plástico verde, que sempre vinha nos saquinhos de brinde ganhados como recordação da festinha, tivesse sido descartada, e Cássia, naquela festa, não vestia sua fantasia de mulher atrevida e tom provocativo, mas simplesmente mostrava sua face natural de garota que também tinha suas inseguranças e fragilidades. As balas Juquinha que explodiram no ar, quando a mãe da aniversariante pediu à Cássia que estourasse a grande bola com seu cigarro, mostraram-me que, por trás do plástico que protegia a bala, eu sempre encontraria sua massa açucarada mole e doce.

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