quinta-feira, 2 de setembro de 2010

A irmã do sono




Nunca conheci alguém tão paciente.


Confesso que de início isto me causava um comichãozinho de inveja. Tudo era previsível, possível para ela. Como poderia! Sua complacência e temperança a tornava cada dia mais irreal. Sentada naquela poltrona, tinha a mesma expressão fazia séculos. Seus músculos, todos já flácidos e cansados de se mover faziam dela uma estátua viva. Eu sentia que queria viver. E de certo ponto tinha potencial para isso. Mas o que então tinha tirado toda a vivacidade daquela pobre mulher?Todas suas amigas, já falecidas a tinham advertido das consequências da sua triste forma de viver. Nunca escutara ninguém. Era por deveras teimosa. O mais incrível era que sempre fora apontada como a mais corajosa, o exemplo a seguir, a virtude das virtudes. Mais que coragem é esta que nunca arriscara nada? Talvez não tivesse motivos? Mentira. Quantas vezes como que num ímpeto de impulsividade quis sacudir aquela criaturinha e gritar: - Vai querida, tira a mãozinha da boca e deixa todo mundo te escutar! Levanta daí! Corrrrrrreeeeeeeeeeeee!

Mas já sabia que seria em vão. Pessoas não mudam. Elas fingem. E fingir não é verdadeiro, não é mesmo? Então porque fazê-las serem quem nunca serão?Digo, fingir... Ela continuaria ali, parada, esperando, esperando.... E a roda da vida continuaria a girar, girar, girar....E ela...ela seria a última a morrer....Seu nome? Esperança....

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